Prece de Cáritas

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Carta do Senador Públio Lentulus sobre Jesus

(Este documento foi encontrado no arquivo do Duque de Cesadini, em Roma. Essa carta, onde se faz o retrato físico e moral de Jesus, foi mandada de Jerusalém ao imperador Tibério César, em Roma, ao tempo de Jesus., pelo Senador Públio Lentulus)

"Sabendo que desejas conhecer quanto vou narrar, existindo nos nossos tempos um homem, o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que pelo povo é inculcado o profeta da verdade, e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, criador do céu e da terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado; em verdade, ó César, cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse Jesus: ressuscita os mortos, cura os enfermos, em uma só palavra: é um homem de justa estatura e é muito belo no aspecto, e há tanta majestade no rosto, que aqueles que o vêem são forçados a amá-lo ou temê-lo.
Tem os cabelos da cor amêndoa bem madura, são distendidos até as orelhas, e das orelhas até as espáduas, são da cor da terra, porém mais reluzentes.

Tem no meio de sua fronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso nos nazarenos, o seu rosto é cheio, o aspecto é muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê em sua face, de uma cor moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis.

A barba é espessa, mas semelhante aos cabelos, não muito longa, mas separada pelo meio, seu olhar é muito afetuoso e grave; tem os olhos expressivos e claros, o que surpreende é que resplandecem no seu rosto como os raios do sol, porém ninguém pode olhar fixo o seu semblante, porque quando resplende, apavora, e quando ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade.

Diz-se que nunca ninguém o viu rir, mas, antes, chorar. Tem os braços e as mãos muito belos; na palestra, contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele se aproxima, verifica-se que é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais belo homem que se possa imaginar, muito semelhante à sua mãe, a qual é de uma rara beleza, não se tendo, jamais, visto por estas partes uma mulher tão bela, porém, se a majestade tua, ó Cézar, deseja vê-lo, como no aviso passado escreveste, dá-me ordens, que não faltarei de mandá-lo o mais depressa possível.

De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém; ele sabe todas as ciências e nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma na cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim, porém em sua presença, falando com ele, tremem e admiram.

Dizem que um tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade, segundo me dizem os hebreus, não se ouviram, jamais, tais conselhos, de grande doutrina, como ensina este Jesus; muitos judeus o têm como Divino e muitos me querelam, afirmando que é contra a lei de Tua Majestade; eu sou grandemente molestado por estes malignos hebreus.
Diz-se que este Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas, ao contrário, aqueles que o conhecem e com ele têm praticado, afirmam ter dele recebido grandes benefícios e saúde, porém à tua obediência estou prontíssimo, aquilo que Tua Majestade ordenar será cumprido.

Vale, da Majestade Tua, fidelíssimo e obrigadíssimo... Públio Lentulus, presidente da Judéia
Lindizione setima, luna seconda.”
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Fonte: Rádio Rio de Janeiro 1400 AM

O Futuro da Humanidade




A humanidade na Terra está apenas começando, uma vez que o Homo Sapiens só apareceu há algumas dezenas de milênios, tempo infinitamente pequeno se o compararmos às dezenas de milhões de anos exigidos pela diferenciação dos grandes grupos animais.


Não é de espantar, conseqüentemente, que a humanidade tenha permanecido mais ou menos idêntica a ela mesma. Além disso, porque teríamos nós chegado a um ponto singular no Tempo? A evolução nunca se afastou de seu esforço. Constantemente elevou-se, degrau em degrau, para chegar ao homem. Sua marcha passada é uma garantia do futuro e nada indica que o pensamento e a consciência tenham atingido em nós seu ponto culminante.

Os estados que foram adquiridos durante a evolução, pareceriam sem dúvida, completamente incríveis num estado anterior.
Quem contemplando uma ameba quando ela era a mais alta forma de vida, poderia imaginar a águia e o leão? E quem, considerando o estágio atual de desenvolvimento humano, poderia fazer uma idéia do que será o ser que substituirá o homem como ele mesmo substituiu o antropomorfo?

De qualquer maneira, não é fazer ato de fé imprudente acreditar no surgimento futuro de uma humanidade evoluída, de cérebro aperfeiçoado, que nascerá Talvez de nós mesmos.
O Universo, segundo alguns o Ser Transcendente que governa os mundos e orienta os destinos, soube esperar bilhões de anos o aparecimento da espécie humana em nosso planeta, e concederá também, sem dúvida, o tempo necessário à realização de uma raça superior.

Porém, esse destino majestoso, esse futuro imenso e esplêndido, essa emergência de um novo limiar evolutivo já se exprime na necessidade de superação que se observa em todos os campos da atividade e do pensamento humano, poderemos nós assegurá-lo? Sim, primeiro evitando provocar uma regressão por uma aterradora guerra nuclear, e, de maneira positiva, cultivando o nosso aperfeiçoamento.

Carregamos, por hereditariedade, os pensamentos de uma multidão de grandes antepassados. Cabe-nos fazer surgir desse precioso patrimônio a misteriosa profundidade de nossas células cerebrais, ultrapassá-la, subir sempre mais e tornarmo-nos os ascendentes daqueles que o futuro reverenciará. Assim fazendo, realizamos nossas esperanças de uma existência mais serena e lúcida com a certeza de caminhar em linha reta pelo grande caminho da evolução e do progresso.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Santo Expedito



Segundo a tradição, era armênio, não se conhecendo o lugar de seu nascimento. Era chefe da 12ª Legião Romana, cognominada "Fulminante", estabelecida em Metilene, na Capadócia, sede de uma das províncias romanas da Armênia, e onde sofreu seu martírio.

A Armênia foi uma das primeiras regiões a receber a pregação dos apóstolos Judas Tadeu, Simão e Batolomeu, mas foi também local de inúmeras perseguições aos cristãos. Essa região foi regada com o sangue de muitos mártires, entre eles Santo Expedito, levado à morte a 19 de Abril de 303, sob o poder de Deocleciano.

Deocleciano subiu ao trono de Roma em 284 e, devido ao seu caráter, parecia oferecer aos cristãos garantias de benevolência, pois havia em seu palácio a liberdade de religião.

Porém, por influências de seu genro pagão, Galero, determinou a perseguição dos cristãos, ordenando a destruição de igrejas e livros sagrados, a suspensão das assembléias cristãs e a renúncia de todos os cristãos. Galero, sempre incitado por sua mãe, também pagã, queria abolir para sempre o Cristianismo e, através de insinuações maldosas e mentiras, fez Deocleciano crer que o cristianismo conspirava de várias formas contra a nobreza do imperador.

Deocleciano, então, empreendeu a exterminação sistemática dos cristãos, envolvendo, inclusive, os membros de sua própria família e os servidores de seu palácio. O evento tornou-se um holocausto sangrento, com oficiais, magistrados, o bispo da Nicomédia (Antino), padres, diáconos e simples fiéis, assassinados ou afogados em massa.


A energia do generoso soldado Expedito e sua situação de chefe de legião chamaram a atenção de Deocleciano quando as perseguições começaram. Entre muitos que já haviam pagado com a vida, estavam Maurício, outro chefe de legião, Marcelo, centurião romano e Sebastião, tribuno da guarda pretoriana, hoje conhecido como São Sebastião. Sendo assim, Expedito e seus companheiros de armas, cheios de admiração pelo capitão Sebastião, prometeram imitar sua conduta, sabendo que teriam a mesma sorte de enfrentar a morte a ter que renunciar sua fé.

Assim ocorreu com Santo Expedito que, depois de ser flagelado até derramar sangue, teve a cabeça decepada. Era o dia 13, das calendas de Maio, ou 19 de Abril de 303, afirmam os martinólogos da época. Somente em 324, com a retomada da autoridade do imperador cristão Constantino, as terríveis perseguições tiveram fim.

O culto à Santo Expedito se estabeleceu em sua pátria, transpondo o Oriente e passou para a Alemanha meridional. De lá se espalhou pela Itália, Espanha, França e Bélgica. Em várias igrejas do mundo apresentam-se estátuas representando Santo Expedito, com traje legionário, vestindo uma túnica curta e um manto jogado militarmente atrás dos ombros, tendo postura militar. Em uma mão segura uma palma e na outra uma cruz.

Com seu pé, esmaga um corvo, que se consome a lançar seu grito habitual: "Crás" ("Amanhã", o deixar para o dia seguinte ou mais tarde, tudo o que se deve cumprir imediatamente). Santo Expedito responde à ave, com a cruz que segura na mão direita, "Hodie!" ("Hoje", sua vontade de lançar fora qualquer retardamento ou hesitação no cumprimento da tentação).

Por este motivo, é invocado nos casos que exigem solução imediata e recebeu o título de patrono das "Causas Urgentes". Ele não adia seu auxílio para amanhã, atende sua prece hoje ou na hora em que mais se precisa de ajuda.

domingo, 11 de abril de 2010

São Jorge









São Jorge - Dia: 23 de abril

História :

Em torno do século III D.C., quando Diocleciano era imperador de Roma, havia nos domínios do seu vasto Império um jovem soldado chamado Jorge. Filho de pais cristãos, Jorge aprendeu desde a sua infância a temer a Deus e a crer em Jesus como seu salvador pessoal.

Nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia, Jorge mudou-se para a Palestina com sua mãe após a morte de seu pai. Lá foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade - qualidades que levaram o imperador a lhe conferir o título de conde. Com a idade de 23 anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo altas funções.

Por essa época, o imperador Diocleciano tinha planos de matar todos os cristãos. No dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses.

Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande ousadia a fé em Jesus Cristo como Senhor e salvador dos homens. Indagado por um cônsul sobre a origem desta ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da VERDADE.

O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "O QUE É A VERDADE ?". Jorge respondeu: "A verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e nele confiando me pus no meio de vós para dar testemunho da verdade."

Como São Jorge mantinha-se fiel a Jesus, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. Jorge sempre respondia:

"Não, imperador ! Eu sou servo de um Deus vivo ! Somente a Ele eu temerei e adorarei".

E Deus, verdadeiramente, honrou a fé de seu servo Jorge, de modo que muitas pessoas passaram a crer e confiar em Jesus por intermédio da pregação daquele jovem soldado romano.

Finalmente, Diocleciano, não tendo êxito em seu plano macabro, mandou degolar o jovem e fiel servo de Jesus no dia 23 de abril de 303. Sua sepultura está na Lídia, Cidade de São Jorge, perto de Jerusalém, na Palestina.

A devoção a São Jorge rapidamente tornou-se popular. Seu culto se espalhou pelo Oriente e, por ocasião das Cruzadas, teve grande penetração no Ocidente.
Verdadeiro guerreiro da fé, São Jorge venceu contra Satanás terríveis batalhas, por isso sua imagem mais conhecida é dele montado num cavalo branco, vencendo um grande dragão. Com seu testemunho, este grande santo nos convida a seguirmos Jesus sem renunciar o bom combate.

Lendas:

Um horrível dragão saía de vez em quando das profundezas de um lago e se atirava contra os muros da cidade trazendo-lhe a morte com seu mortífero hálito. Para ter afastado tamanho flagelo, as populações do lugar lhe ofereciam jovens vítimas, pegas por sorteio. um dia coube a filha do Rei ser oferecida em comida ao monstro. O Monarca, que nada pôde fazer para evitar esse horrível destino da tenra filhinha, acompanhou-a com lágrimas até às margens do lago.

A princesa parecia irremediavelmente destinada a um fim atroz, quando de repente apareceu um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia. Era São Jorge.

O valente Guerreiro desembainhou a espada e, em pouco tempo reduziu o terrível dragão num manso cordeirinho, que a jovem levou preso numa corrente, até dentro dos muros da cidade, entre a admiração de todos os habitantes que se fechavam em casa, cheios de pavor. O misterioso cavaleiro lhes assegurou, gritando-lhes que tinha vindo, em nome de Cristo, para vencer o dragão. Eles deviam converter-se e ser batizados.
Fatos:

Desde o século VI, havia peregrinações ao túmulo de São Jorge em Lídia. Esse santuário foi destruído e reconstruído várias vezes durante a história.

Santo Estevão, rei da Hungria, reconstruiu esse santuário no século XI. Foram dedicadas numerosas igrejas a São Jorge na Grécia e na Síria.

A devoção a São Jorge chegou à Sicília na Itália no século VI. No séc. VII o siciliano Papa Leão II construiu em Roma uma igreja para S. Sebastião e S. Jorge. No séc. VIII, o Papa Zacarias transferiu para essa igreja de Roma a cabeça de S. Jorge.

A devoção a São Jorge chegou a Inglaterra no século VIII. No ano de 1101, o exército inglês acampou na Lídia antes de atacar Jerusalém. A Inglaterra tornou-se o país que mais se distinguiu no culto ao mártir São Jorge...

Em 1340, o rei inglês Eduardo III instituiu a Ordem dos cavaleiros de São Jorge.

Foi o Papa Bento XIV (1740-1758) que fez São Jorge, padroeiro da Inglaterra até hoje.

Em 1420, o rei húngaro, Frederico III (1534) evoca-o para lutar contra os turcos.

As Cruzadas Medievais tornaram popular no ocidente a devoção a São Jorge, como guerreiro, padroeiro dos cavaleiros da cruz e das ordens de cavalaria, para libertar todo país dominado e para converter o povo no cristianismo.
O Sr. Cardeal D. Eugenio Sales, assim se pronunciou:

"A devoção de São Jorge nos deve levar a Jesus Cristo".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ansiedade e Serenidade


Os pesquisadores de opinião informam que a maioria das pessoas sente mais ansiedade diante da idéia de falar em público do que diante da idéia da morte.

Tornamo-nos mais ansiosos sobre o que vestir do que sobre como viver.
Ficamos mais ansiosos por não encontrarmos um lugar para estacionar do que por não encontrarmos soluções para a injustiça social e econômica.
Preocupamo-nos mais com o crescimento de nossos investimentos do que com o nosso próprio crescimento.

Mas é possível aprender a permitir que a ansiedade nos conduza por um caminho de paz interior. A serenidade não é a ausência permanente de ansiedade, mas uma confiança interior derivada de transformar a ansiedade natural em fé.

A maneira genuína de dominar a ansiedade é transformadora, ela muda a ansiedade transformando-a na paz que supera a compreensão. Saber como sentir ansiedade em relação ao que vale a pena é vital para o crescimento pessoal. Nossa reação ao sentimento básico da ansiedade determina nosso caráter e nossa personalidade.

A serenidade não evita os problemas da vida cotidiana nem interpreta as duras realidades da existência. A serenidade genuína só se desenvolve a partir da aceitação irrestrita da condição humana. A paz de espírito não é estática, algo que alcançamos de uma vez para sempre.

“Iluminação”, “salvação” e “céu” implicam uma serenidade permanente, mas originam-se na aceitação da condição humana, e não da tentativa de transcendê-la. A serenidade – palavra que vem do latim e significa clareza – é o resultado de ver a vida com clareza, sem os filtros habituais.

Costuma-se confundir a serenidade com um estado estático, ao invés de compreendê-la como um processo dinâmico e em evolução. Ambas as polaridades – ansiedade e serenidade, conflito e paz – são essenciais ao crescimento.

A ansiedade acompanha o desequilíbrio da mudança, aqueles momentos em que deixamos possibilidades novas e desconhecidas perturbarem nossos velhos esquemas mentais.

A paz de espírito surge ao entendermos o apelo da ansiedade e atuarmos para integrar com êxito o novo crescimento à nossa totalidade.
Então à medida que a roda do crescimento continua a girar, experimentamos de novo a ansiedade do desconhecido.

Ao nos tornarmos capazes de saudar a ansiedade com a mesma presteza com a qual saudamos a serenidade, experimentaremos a verdadeira paz, a paz profunda que transmite compreensão.
Aí a experiência da ansiedade não mais nos deixará ansiosos, mas se transformará na mais profunda fé.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Jesus, O Filho do Homem (por Khalil Gibran)


Para estes dias onde devemos lembrar o sentido do Mestre ter vindo até nós, e o que representa ter sido mãe de Jesus


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SUSANA DE NAZARÉ, UMA VIZINHADE MARIA
Jesus Jovem e Adulto

Conheci Maria, mãe de Jesus, antes que se tornasse a mulher de José o Carpinteiro, quando ambas ainda éramos solteiras.

Naquele tempo, Maria costumava ter visões e ouvir vozes, e falava de mensageiros celestes que apareciam em seus sonhos.

E o povo de Nazaré se preocupava com ela e observava suas idas e vindas. E todos a olhavam com olhos carinhosos, porque havia alturas em sua testa e espaços em seu andar.

Mas alguns diziam que ela estava possessa. Diziam isso porque ela só se conduzia de acordo com suas convicções.

Ela me parecia idosa, quando era ainda jovem, porque havia uma colheita em sua floração e fruto maduro em sua primavera.

Nascera e crescera entre nós; entretanto, era como uma estranha vinda do País do Norte. Em seus olhos, havia sempre o espanto de alguém que não está ainda familiarizado com nossas faces.

E era tão altiva quanto a Míriam de antanho, que andou com seus irmãos do Nilo até o deserto.

Depois, Maria desposou o carpinteiro José.
Quando Maria estava esperando Jesus, costumava andar por entre as colinas e voltar ao entardecer, com formosura e dor em seus olhos.
E quando Jesus nasceu, contaram-me que Maria disse à sua mãe: "Não passo de uma árvore não podada. Cuida tu deste fruto." Marta, a parteira, ouviu-a.

Depois de três dias, visitei-a. E seus olhos estavam maravilhadoss, e seus seios túrgidos, e seu braço envolvia seu primogénito como a concha envolve a pérola.

Todos nós amávamos o bebé de Maria e O observávamos, pois havia calor em Seu ser, e Ele palpitava com o ritmo de Sua vida.

Passaram-se as estações, e Ele tornou-se um menino cheio de risos e pequenas vagueações.
Ninguém entre nós sabia o que Ele iria fazer, pois parecia sempre fora da nossa espécie. Mas nunca era repreendido, apesar de ser temerário e superousado.

Brincava com os outros meninos mais do que estes bincavam com Ele.
Aos doze anos, ajudou, um dia, um cego a atravessar um riacho e atingir a segurança da grande estrada.

E, agradecido, o cego perguntou-lhe: "Menininho, quem és tu?"
E Ele respondeu: "Eu não sou um menininho. Eu sou Jesus."
E o cego perguntou: "Quem é teu pai?"
E Ele respondeu: "Deus é meu pai."
O cego riu-se e replicou: "Muito bem, meu menino. E quem é a tua mãe?"
E Jesus respondeu: "Eu não sou teu menino. E minha mãe é a Terra."
E o cego disse: "Então, olha aqui, fui conduzido através do riacho pelo filho de Deus e da Terra."
E Jesus respondeu: "Conduzir-te-ei aonde quer que fores, e meus olhos acompanharão teus passos."
E Ele cresceu como uma palmeira preciosa em nossos jardins.

Quando tinha dezenove anos, era tão garboso quanto um cervo, e Seus olhos eram como mel, e cheios do assombro dos dias.

E na Sua boca havia a sede do rebanho do deserto pelo lago.
Costumava andar sozinho pelos campos, e nossos olhos O seguiam, e os olhos de todas as moças de Nazaré. Mas ficávamos acanhadas ante Ele.
O amor sempre fica acanhado ante a beleza, embora a beleza seja sempre perseguida pelo amor.
Depois, os anos levaram-No a falar no templo e nos jardins da Galiléia.
E, às vezes, Maria O seguia para escutar-Lhe as palavras e ouvir as batidas de seu próprio coração. Mas quando Ele e aqueles que O amavam desceram para Jerusalém ela não os acompanhou.

Porque nós, do País do Norte, somos frequentemente motejados nas ruas de Jerusalém, mesmo quando vamos levar nossas oferendas ao templo.

E Maria era muito orgulhosa para submeter-se ao País do Sul.
E Jesus visitou outras terras no leste e no oeste. Não sabíamos que terras Êie visitava; contudo, nossos corações O seguiam.
Mas Maria esperava-O no limiar da casa e, cada entardecer, seus olhos procuravam na estrada pela Sua volta.

Entretanto, após a Sua chegada, ela costumava dizer-nos: "Ele é grande demais para ser meu Filho, eloquente demais para meu coração silencioso. Como poderei reclamá-Lo?"
Parecia-nos que Maria não podia acreditar que a planície tivesse dado nascimento à montanha. Na candura do seu coração não via que a crista do monte é o caminho para o cume.
Ela conhecia o homem, mas, porque Ele era seu Filho, não se atrevia a conhecê-Lo.
E num dia em que Jesus tinha ido ao lago encontrar-se com os pescadores, ela me disse: "Que é o homem senão este ser inquieto que deseja elevar-se da terra; que é o homem senão um anseio que almeja as estrelas?
"Meu filho é um anseio. Ele é todos nós em nosso anseio pelas estrelas.
"Disse: meu filho? Que Deus me perdoe. Entretanto, em meu coração, eu seria sua mãe."
Agora, é difícil falar mais de Maria e de seu filho; mas embora haja debulhos na minha garganta e minhas palavras cheguem a vós como coxos em muletas, preciso relatar o que vi e ouvi.
Foi na juventude do ano, quando as anémonas vermelhas enchiam os montes, que Jesus chamou Seus discípulos, dizendo-lhes: "Vinde comigo a Jerusalém e testemunhai o sacrifício do cordeiro para a Páscoa."

Naquele mesmo dia, Maria chegou à minha porta e disse: "Ele vai à procura da Cidade Santa. Não queres vir e segui-Lo comigo e as outras mulheres?"
E caminhamos pela longa estrada atrás de Maria e de seu filho, até que chegamos a Jerusalém. E um grupo de homens e mulheres saudou-nos à porta da cidade, pois Sua vinda havia sido anunciada àqueles que O amavam.
Mas, nessa mesma noite, Jesus saiu da cidade com Seus homens.
Disseram-nos que tinham ido a Betânia.
E Maria ficou conosco na estalagem, esperando Sua volta.
Pelo anoitecer da quinta-feira seguinte, Ele foi capturado fora das muralhas e feito prisioneiro.
E quando soubemos que Ele estava preso, Maria não pronunciou uma palavra; mas surgiu em seus olhos o cumprimento daquela promessa de dor e alegria que tínhamos observado quando ela era apenas uma noiva em Nazaré.
Ela não chorou. Movia-se entre nós como o fantasma de uma mãe que recusa deplorar o fantasma de seu filho.

Sentamo-nos no chão, mas ela permaneceu de pé, caminhando na sala para cima e para baixo.

Ficava, às vezes, parada junto à janela, olhando fixamente na direção do leste e, então, com os dedos das duas mãos, penteava o cabelo para trás.
Ao amanhecer, ainda permanecia de pé entre nós, como uma bandeira solitária num campo de batalha onde não há exércitos.

Nós chorávamos porque sabíamos qual ia ser o amanhã do seu filho; mas ela não chorava porque também sabia o que Lhe iria acontecer.

Seus ossos eram de bronze; e seus nervos, de olmo antigo; e seus olhos eram largos e ousados, como o firmamento.

Já ouvistes um tordo cantar enquanto seu ninho se queima ao vento?

Já vistes uma mulher cuja tristeza é grande demais para o pranto, ou um coração ferido que se eleva acima de sua dor?

Nunca vistes uma tal mulher, porque não estivestes na presença de Maria; e não fostes envolvidos pela Mãe Invisível.

Naquele momento imóvel, quando os cascos abafados do silêncio batiam nos peitos dos insones, João, o jovem filho Zebedeu, veio e disse: "Mãe Maria, Jesus está indo. Sigamo-lo
E Maria pôs a mão sobre o ombro de João, o saíram, e nós os seguimos.
Quando chegamos junto à Torre de Davi, vimos Jesus carrengando Sua cruz. E havia enorme multidão à Sua volta.

E dois outros homens também estavam carregando suas cruzes.
E Maria mantinha a cabeça erguida, e caminhava conosco atrás de seu filho. E seu passo era firme.
E atrás dela seguiam Sião e Roma, sim, o mundo inteiro, para se vingar sobre um Homem livre.
Quando atingimos o monte, Ele foi erguido na cruz.
E olhei para Maria. E sua face não era a face de uma mulher desolada. Era o semblante da terra fértil, sempre dando nascimento, sempre enterrando filhos.
Então, veio-lhe aos olhos a lembrança de Sua infância, e ela disse em voz alta: "Meu filho, que não é meu filho, homem que uma vez visitaste meu ventre, glorio-me de teu poder. Sei que cada gota de sangue que emana de tuas mãos será a corrente salvadora de uma nação.
Morres nesta tarde tempestuosa como meu coração uma vez morreu ao pôr do sol, e não me entristecerei."
Naquele momento, desejei cobrir meu rosto com meu manto e fugir para o País do Norte. Mas, de repente, ouvi Maria dizer: "Meu filho, que não é meu filho, que disseste ao homem que está à tua direita, que o fez feliz em sua agonia? A sombra da morte é luz sobre sua face, e ele não pode tirar os olhos de ti.

"Agora, sorris para mim, e porque sorris sei que venceste."

Então Jesus olhou para Sua Mãe e disse: "Maria, a partir de agora sê a mãe de João."
E a João Ele disse: "Sê um filho amoroso para essa mulher. Vai a sua casa, e que tua sombra cruze o limiar onde outrora me postei. Faze isso em minha memória."

E Maria levantou a mão direita na direção Dele, e ela era como uma árvore com um ramo só. E novamente gritou: "Meu filho, que não é meu filho, se isto é de Deus, que Deus nos dê paciência e compreensão. E se é do homem, que Deus o perdoe para sempre.

"Se é de Deus, a neve do Líbano será tua mortalha e se é somente destes sacerdotes e soldados, então eu tenho essa vestimenta para tua nudez”.

"Meu filho, que não é meu filho, o que Deus constrói aqui jamais perecerá; e o que o homem procura destruir permanecerá construído, embora não à sua vista."
E nesse momento, os céus O cederam à terra, um grito e um suspiro.
E Maria cedeu-O também ao homem, um ferimento e um bálsamo.
E Maria disse: "Olhai agora, ele se foi. A batalha está terminada. A estrela já brilhou. O navio chegou ao porto. Aquele que apertei contra meu peito está palpitando no espaço."

E nos aproximamos dela, e ela nos disse: "Mesmo na morte, ele sorri. Venceu. Fui sem dúvida a mãe de um vencedor."

E Maria voltou a Jerusalém, apoiada em João, o jovem discípulo.
E era uma mulher realizada.

E quando alcançamos a porta da cidade, fitei sua face e fiquei espantada, porque, naquele dia, a cabeça de Jesus alteava-se sobre todos os homens, mas a cabeça de Maria não estava menos alta.

Tudo isso se passou na primavera do ano.

E agora é o outono. E Maria, a mãe de Jesus, voltou novamente à sua casa, e encontra-se sozinha.

Há dois sábados, meu coração era como uma pedra em meu peito, porque meu filho me tinha abandonado por um navio em Tiro. Quer ser marinheiro.

E disse que nunca mais voltaria.

E, numa tarde, procurei Maria.
Quando entrei em sua casa, ela estava sentada ao tear, mas não estava tecendo. Olhava para o céu além de Nazaré.

E eu disse-lhe: "Salve, Maria."
E ela estendeu-me a mão. e disse: "Vem e senta-te junto de mim e observemos o sol derramar seu sangue sobre os montes."

E sentei-me no banco ao seu lado, e ficamos olhando o poente através da janela.

E, depois de um momento, Maria disse: "Não sei quem estará crucificando o sol, nesta tarde."
Então eu disse: "Vim procurar-te para me consolar. Meu filho deixou-me pelo mar e fiquei sozinha na minha casa do outro lado da estrada."

E Maria disse: "Eu te consolaria, mas como fazê-lo'"

E eu disse: "Bastaria que me falasses de teu filho para que fique consolada."

E Maria sorriu para mim, pôs a mão no meu ombro e disse: "Falar-te-ei dele. O que te consolará me consolará também."

Então ela falou de Jesus, e falou longamente de tudo que acontecera no começo.
E parecia-me que, em suas palavras, não fazia diferença entre seu filho e o meu.
Pois disse-me: "Meu filho é também um navegante. Por que não confiar teu filho às ondas como confiei o meu?

"A mulher será sempre ventre e berço, mas jamais tumba. Morremos para dar a vida à vida, tal como nossos dedos tecem o fio para o tecido que nunca usaremos.
"E lançamos a rede para o peixe que nunca provaremos.
"E por isso nos entristecemos, embora em tudo isso esteja a nossa alegria."
Assim me falou Maria.

E eu a deixei e vim para minha casa, e embora a luz do dia tivesse desaparecido, sentei-me ao meu tear e recomecei a tecer.
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JESUS, O FILHO DO HOMEM
KHALIL GIBRAN
TRADUÇÃO MANSOUR CHALLITA