Prece de Cáritas

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O CRISTÃO E O MUNDO

 

Ninguém julgue fácil a aquisição de um título referente à elevação espiritual. O Mestre recorreu sabiamente aos símbolos vivos da Natureza, favo­recendo-nos a compreensão.

A erva está longe da espiga, como a espiga per­manece distanciada dos grãos maduros.
 
Nesse capítulo, o mais forte adversário da alma que deseja seguir o Salvador, é o próprio mundo.
 
Quando o homem comum descansa nas vulgari­dades e inutilidades da existência terrestre, ninguém lhe examina os passos.
 
Suas atitudes não interessam a quem quer que seja.
 
Todavia, em lhe surgindo no coração a erva tenra da fé retificadora, sua vida passa a constituir objeto de curiosidade para a mul­tidão.
 
Milhares de olhos, que o não viram quando desviado na ignorância e na indiferença, seguem-lhe, agora, os gestos mínimos com acentuada vigilância.
 
O pobre aspirante ao título de discípulo do Senhor ainda não passa de folhagem promissora e já lhe reclamam espigas das obras celestes; conserva se ainda longe da primeira penugem das asas espirituais e já se lhe exigem vôos supremos sobre as misérias humanas.
 
Muitos aprendizes desanimam e voltam para o lodo, onde os companheiros não os vejam.
 
Esquece-se o mundo de que essas almas ansio­sas ainda se acham nas primeiras esperanças e, por isso mesmo, em disputas mais ásperas por rebentar o casulo das paixões inferiores na aspiração de subir.
 
Dentro da velha ignorância, que lhe é característica, a multidão só entende o homem na animalidade em que se compraz ou, então, se o companheiro pretende elevar-se, lhe exige, de pronto, credenciais positivas do céu, olvidando que ninguém pode trair o tempo ou enganar o espírito de seqüência da Na­tureza.
 
Resta ao cristão cultivar seus propósitos su­blimes e ouvir o Mestre:
“- Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio na espiga.”
— Jesus. (MARCOS: 4. 28)

sábado, 2 de novembro de 2013

Pensando o Mundo


O grande filósofo grego Aristóteles disse, inspirado por seu mestre Platão, que certas ideias tendem a reaparecer de tempos em tempos, que estamos fadados a redescobri-las, vítimas de seu irresistível poder de sedução intelectual. O escritor argentino Jorge Borges, em seu conto "O Imortal", explora justamente esse tema, o da criação do novo a partir da memória do velho. Criação passa a ser recriação; descoberta, redescoberta.



Assim, quando nos perguntamos de onde vieram as primeiras ideias filosóficas, as sementes do pensamento moderno ocidental, não temos dúvidas: Vieram da Grécia antiga, em particular do período entre os séculos VI e IV A.C O início dessa aventura intelectual é marcado pelo aparecimento dos filósofos pré-socráticos, que acreditamos terem sido os primeiros a tentar responder a questões da Natureza usando a razão, e não a mitologia ou a religião.

Este apetite pelo saber racional está na raiz de toda ciência. Às vezes ele é chamado de "encantamento iônico", celebrando os primeiros filósofos pré-socráticos, que habitaram a Iônia, uma província grega da costa oeste da Turquia atual. Segundo Aristóteles, o primeiro deles foi Tales de Mileto, que postulou que a substancia fundamental do cosmo é a água. Essa ideia marca o início da busca por uma estrutura material unificada na Natureza, algo que motiva o trabalho de cientistas em várias áreas distintas, da física de partículas elementares à biologia molecular e à genética.

Para Tales a Natureza é uma entidade dinâmica, em constante transformação, renovando-se em novas formas e criações. Essa visão confronta à escola de Parmênides, outro pré-socrático, que acreditava o oposto: O que é essencial não pode se transformar. O que  "É" simplesmente é. Aqui está a grande ideia de uma entidade eterna, transcendente, além das transformações naturais. O debate entre o eterno e o novo "ser" e o "vir a ser", já havia começado há 2500 anos.

Assim, os pitagóricos uniam de forma mística o estudo da Natureza por meio da razão e da espiritualidade. Para eles, embriagados pelo encantamento iônico, os números eram mais que números, suas funções uma espécie de alfabeto simbólico da Razão Universal. A Natureza, através dos números, estabelecia uma ponte entre o humano e o divino.