Aristóteles já antecipara o caso de quem, sedento ou esfaimado, fica imóvel onde se acha, se a bebida e o alimento estiverem a igual distância. É uma prova, por absurdo, de que, na realidade, a escolha sempre se faz, o que nos remete ao decisionismo – tese de que certos problemas só podem ser resolvidos mediante uma escolha, ligada a um juízo de valor, que pode atingir inúmeras áreas da vida humana, freqüentemente a área moral.
Inscrito no campo semântico de desejar, querer, valorar/avaliar, decidir, agir os termos escolha/escolher relacionam-se também noções designadas por vontade, comportamento, norma, valor, liberdade etc. Nas primeiras investigações sobre a noção de escolha, Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, usou o termo proairesis (= pré-escolha, entre várias coisas): não sendo puramente um desejo, um apetite ou uma opinião, atua sob um princípio racional e atividade de pensamento. Para Aristóteles, é um ato de escolha,e, para Epiceto, é o que faz o homem ser o que é, o que constitui o próprio homem.
Em Filosofia moral, a escolha decorre de deliberação, com base na razão, que avalia os prós e contras, e os princípios que nortearam o processo- é a concepção intelectualista da escolha. Há casos em que o desejo a precede, e em outros dela pode estar ausente, quando acontece de uma coisa/alternativa/opinião/teoria parecer melhor, ou ajustar-se melhor a certas condições estabelecidas. Do extremo racionalismo, que exige sempre encontrar argumentos em favor de uma alternativa que eliminem as outras, ao decisionismo, que admite a feição subjetiva da escolha, com a participação de uma consciência moral ou de uma emoção, há posições intermediárias que admitem razões mais fortes ou persuasivas que outras. Exemplo disso é o desafio do grande movimento de sustentabilidade para preservação do meio ambiente, que enfrenta a atual geração, de renunciar a uma série de confortos e comodidades, em benefício da subsistência das gerações futuras ou para a construção de uma responsabilidade mais justa, igualitária etc. O racionalista dirá que se devem encontrar razões a favor ou contra o sacrifício da geração atual e o decisionista que se deve decidir a favor ou contra o sacrifício mesmo que não haja razões suficientes para apoiar a decisão que se tome. Constatamos isso nas conferencias mundiais sobre o meio ambiente. De todo modo, os partidários de ambas as posições sustentam que é possível: encontrar razões práticas que conduzam a uma decisão satisfatória, aceitável por todos, ou por quase todos, sem pretender, no entanto, que seja uma decisão absolutamente correta e para sempre; recorrer a prudência e/ou a um sentimento moral – não irracional, mas tampouco estritamente racional.
Impõem-se uma questão fundamental: como ensinar a escolher/tomar decisões? Basicamente sempre justificando o motivo pelo qual dizemos “sim” ou “não”, pois desse modo a mente infanto-juvenil cria a postura mental de remontar às causas, aos motivos das situações; e sempre discutindo opções e conseqüências com as crianças e jovens, incluindo-se principalmente as que eles apresentarem, para infundir-lhes fundamentos éticos, autonomia, assunção de responsabilidade individual e coletiva.
Questões éticas e morais exigiram alguns segundos a mais de processamento do que as demais, e no caso das emoções nobres, a atividade neuronal levou mais tempo para atingir o pico máximo. Os cientistas não sabem por que as decisões morais exigem mais tempo de reflexão do que as baseadas apenas em atributos físicos, mas fica para nós a advertência de que qualquer pressão prejudica esse tipo de escolha.
Pelo uso consciente do livre-arbítrio, caminhamos todos para certo tempo na trajetória evolutiva, a partir do qual os seres só conseguem fazer a Inevitável Escolha para o Bem, para o Amor, como Joana de Cusa, Kardec, Francisco de Assis, Bezerra de Menezes, Chico Xavier, e, acima de todos, Jesus.
---------------------------------------------------------------------------------------------------Fonte: Revista Cultura Espírita (setembro 2010)
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